Cheguei em São Paulo pelo terminal rodoviário. De lá peguei o metrô Portuguesa-Tietê com destino a Sé. Era 24 de junho, meu primeiro dia na...
Cheguei em São Paulo pelo terminal rodoviário. De lá peguei o metrô Portuguesa-Tietê com destino a Sé. Era 24 de junho, meu primeiro dia na residência Phosphorus. Do metrô, caminhei a pé pelas ruas Irmã Simpliciana e Venceslau Brás, chegando à rua Roberto Simonsen. Até o número 108 diversos edifícios nesse curto trajeto atiçariam meu olhar ora meio atento, ora meio fascinado.
Neste dia um, as impressões iniciais, as falas e encontros com outros e os desejos despertados foram bem marcantes e acabaram por indicar intenções futuras, intenções que percorreriam comigo pelas semanas seguintes, mesmo que eu ainda não soubesse ao certo o que seria produzido nos dias subsequentes. Digo isto, pois claramente recordo quando saíamos eu, Maria e Gustavo, e nos deparamos com um caminhão amarelo parado em frente ao prédio vizinho ao Phosphorus e que trazia pintado na lataria o motivo de sua espera: J. Alencar Terraplanagem. Era noite e as grandes portas do casarão ao lado encontravam-se totalmente abertas.
Do lado de dentro luzes incandensentes, acesas, encenavam, ainda mais, o lugar e o movimento de diversos homens, num leva e traz de materiais; algo ali acontecia e me interessava; me excitava, a ponto de ali querer ficar mais, e tentar adentrar o casarão. A imagem da retirada de materiais: tábuas, portas antigas, pedras, etc, para a reforma de um casarão logo no dia da chegada a São Paulo, abriria uma fenda; seria um start; um princípio desencadeador de outros movimentos que se desenrolariam com minha permanência e deslocamento nestes quase dois meses. Nas outras semanas, eu retornaria algumas vezes a esse prédio vizinho e a outros prédios da mesma rua.